Um testemunho forte, que me faz pensar na sorte que tenho por viver onde vivo e viver como vivo.
Impressões, retratos e factos presos à condição de Refugiado... Histórias de gente em movimento: fugindo do terror, sonhando com uma vida melhor, perseguindo o futuro, num mundo global
sexta-feira, 24 de junho de 2016
sexta-feira, 17 de junho de 2016
Os olhos azuis
Os olhos azuis de vários membros da família foram a minha primeira surpresa.
Sou uma das professoras que os estão a ensinar a falar português. Felizmente, as três crianças já frequentam a escola, pelo que os cinco adultos são os meus alunos. Ficámos pela oralidade.
Pelo básico dos básicos. Repetimos vezes sem conta "eu sou", com os "us" a serem comidos ou substituídos por "is". Eu Sou. Eu sou. Eu sou. Eu sou português. Eu sou sírio. Eu sou a Daniela. Eu sou a G.
Eu sou. Rimo-nos do cansaço, da incompreensão, da dificuldade.
Eu sou. Mais do que português ou sírio. Mais do que ter um país. Mais do que o azul ou o castanho dos olhos.
Eu sou. E assim começamos pelo início.
Sou uma das professoras que os estão a ensinar a falar português. Felizmente, as três crianças já frequentam a escola, pelo que os cinco adultos são os meus alunos. Ficámos pela oralidade.
Pelo básico dos básicos. Repetimos vezes sem conta "eu sou", com os "us" a serem comidos ou substituídos por "is". Eu Sou. Eu sou. Eu sou. Eu sou português. Eu sou sírio. Eu sou a Daniela. Eu sou a G.
Eu sou. Rimo-nos do cansaço, da incompreensão, da dificuldade.
Eu sou. Mais do que português ou sírio. Mais do que ter um país. Mais do que o azul ou o castanho dos olhos.
Eu sou. E assim começamos pelo início.
Porque, antes de ter alguma coisa ou estar em qualquer lugar, eu já era. Eles já eram. Somos todos um.
segunda-feira, 13 de junho de 2016
Carta aos Portugueses
Carta aos portugueses de Nour Machah, jovem sírio, a viver há cinco anos em Portugal, após abraçar a sua mãe em terras lusas, sentindo que finalmente ela estava a salvo:
"Queridos Portugueses,
Reencontro-me com minha mãe, após 5 anos. Sim, posso vê-la novamente, senti-la a meu lado e chorar… Chorar de felicidade, por estarmos novamente juntos. Não ter que chorar mais de preocupação, assolado pelo perigo que ela enfrentava, rodeada de guerra e destruição.
Como fiz questão de, num post passado, revelar a minha frustração, face a todo o processo de trazer a minha mãe para Portugal (algo que durou 1 eterno ano), faço questão, de hoje revelar algo aqui novamente:
Como fiz questão de, num post passado, revelar a minha frustração, face a todo o processo de trazer a minha mãe para Portugal (algo que durou 1 eterno ano), faço questão, de hoje revelar algo aqui novamente:
Revelar o meu agradecimento a todos vocês, que desde um primeiro momento me ajudaram e deram todo o apoio, relativamente a este processo. Os advogados que consultei. Os médicos portugueses que me contactaram, demonstrando apoio à minha mãe, que é também ela uma médica. Os media portugueses, canais de televisão, radio e jornais.
Os meus amigos que sempre estiveram do meu lado, sem hesitar. O Governo de Portugal. E a todos aqueles que me ajudaram, nem que mais não fosse, com uma palavra amiga… uma palavra reconfortante… uma simples palavra de apoio.
Sim, sinto-me a pessoa mais feliz e sortuda do mundo. Nunca pedi a Deus por grandes riquezas ou por uma vida recheada de regalias. Simplesmente zelei pelo bem-estar dos meus entes queridos, pela sua segurança, pela segurança da minha mãe. Ela é a razão de eu ser, aquilo que sou hoje.
Os meus amigos que sempre estiveram do meu lado, sem hesitar. O Governo de Portugal. E a todos aqueles que me ajudaram, nem que mais não fosse, com uma palavra amiga… uma palavra reconfortante… uma simples palavra de apoio.
Sim, sinto-me a pessoa mais feliz e sortuda do mundo. Nunca pedi a Deus por grandes riquezas ou por uma vida recheada de regalias. Simplesmente zelei pelo bem-estar dos meus entes queridos, pela sua segurança, pela segurança da minha mãe. Ela é a razão de eu ser, aquilo que sou hoje.
Portugal tem e terá sempre, um lugar preciosíssimo no meu coração, não somente porque foi o país que me acolheu durante os últimos 2 anos, e foi aqui que me foi dada a oportunidade de terminar os meus estudos, mas acima de tudo porque foi aqui, neste país, que me foi provada a verdadeira essência dos Direitos Humanos. Foi aqui que me demonstraram que todos nós nos podemos sentir em Casa, seja qual for o destino neste mundo, se tivermos pessoas que nos amem, que nos aceitem e que nos ajudem. Foi também aqui que tive a honra de revelar um pouco mais acerca da minha cultura, das minhas origens, das minhas gentes.
O Povo Português deve sentir-se orgulhoso, porque embora estejam a atravessar um período menos bom, é sempre capaz de realizar coisas boas. A minha alma e coração estão neste país, pelo qual daria tudo, caso um dia seja necessário.
Quando pessoas de outros países Europeus e Árabes me perguntam o porquê de ter escolhido este e não outro país, despertam em mim, uma raiva inconsciente. A minha resposta resume-se a que este foi o país que me acolheu, que me permitiu ter uma vida e ter finalmente perspetivas de futuro.
É-me muito complicado exprimir todo o sentimento de felicidade e eterna gratidão em simples meras palavras. Mas estou a tentar agradecer-vos, porque caso não o fizesse, não conseguiria agradecer a Deus.
Portugal… ganhaste todo o meu respeito e eterna gratidão.
O Povo Português deve sentir-se orgulhoso, porque embora estejam a atravessar um período menos bom, é sempre capaz de realizar coisas boas. A minha alma e coração estão neste país, pelo qual daria tudo, caso um dia seja necessário.
Quando pessoas de outros países Europeus e Árabes me perguntam o porquê de ter escolhido este e não outro país, despertam em mim, uma raiva inconsciente. A minha resposta resume-se a que este foi o país que me acolheu, que me permitiu ter uma vida e ter finalmente perspetivas de futuro.
É-me muito complicado exprimir todo o sentimento de felicidade e eterna gratidão em simples meras palavras. Mas estou a tentar agradecer-vos, porque caso não o fizesse, não conseguiria agradecer a Deus.
Portugal… ganhaste todo o meu respeito e eterna gratidão.
Obrigado.
Nour Machlah"
Texto: Nour Machlal, Página Pessoal de Facebook, 07/06/2016
Texto: Nour Machlal, Página Pessoal de Facebook, 07/06/2016
01/06/2016
Hoje três crianças sírias foram matriculadas numa escola portuguesa. Hoje, dia da criança.
Em vez de serem recrutadas para trabalharem em condições desumanas na Turquia, estas crianças vão à escola.
Em vez de estarem expostas aos perigos de um campo de refugiados, vão à escola.
Em vez de continuarem a assistir a raptos, mortes e luta pela sobrevivência, vão à escola.
Em vez de engrossarem os números do tráfico humano, vão à escola.
Hoje é dia dos direitos das crianças. Fazem mais sentido os doces, as pinturas faciais, os brinquedos e os mimos quando assinalam o direito das crianças a terem um futuro.
Foto: UNICEF
Em vez de estarem expostas aos perigos de um campo de refugiados, vão à escola.
Em vez de continuarem a assistir a raptos, mortes e luta pela sobrevivência, vão à escola.
Em vez de engrossarem os números do tráfico humano, vão à escola.
Hoje é dia dos direitos das crianças. Fazem mais sentido os doces, as pinturas faciais, os brinquedos e os mimos quando assinalam o direito das crianças a terem um futuro.
Foto: UNICEF
quinta-feira, 9 de junho de 2016
Com a Vida às costas...
Transportamos cá dentro o que precisamos e é isso que nos une.
Escrevemos porque acreditamos que a partilha de histórias facilita o acolhimento da vida que o outro carrega consigo. Até que somos capazes de entender que as feridas, as lutas, a crença no futuro e o medo de falhar... tudo o que o outro tem nós temos também. Tudo o que ele é abana os alicerces daquilo que somos.
E a carga de uma pessoa torna-se mais leve sempre que alguém o compreende.
É por isso que não podemos calar!
Foto: UNICEF
Escrevemos porque acreditamos que a partilha de histórias facilita o acolhimento da vida que o outro carrega consigo. Até que somos capazes de entender que as feridas, as lutas, a crença no futuro e o medo de falhar... tudo o que o outro tem nós temos também. Tudo o que ele é abana os alicerces daquilo que somos.
E a carga de uma pessoa torna-se mais leve sempre que alguém o compreende.
É por isso que não podemos calar!
Foto: UNICEF
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